2019 parece estar sendo um ano decisivo, e o começo de grandes coisas.
Quero começar o texto reforçando a todo mundo que eu não sou ninguém. Eu não sou um grande entendido de literatura, ou um estudioso do mercado literário brasileiro. Eu sou um cientista que ama escrever e tem uma opinião, e é pra isso que serve esse blog.
E minha opinião é que eu tô feliz pra caralho com o que eu tô vendo ultimamente no Brasil.
Eu comecei a levar uma carreira de escritor mais a sério em 2017 pra 2018. Uma coisa que me maravilhava bastante era a existência de Magazines literárias lá fora, no exterior. Revistas que publicavam contos em inglês, todo dia, semana ou mês (a variar). Que – e isso é muito importante – pagavam seus autores, e pagavam bem. Não o suficiente para alguém viver só disso – não existe escritor bom o suficiente no mundo para emplacar múltiplos contos todos os meses em múltiplas revistas, devido à concorrência altíssima – mas bom o bastante para valorizar o trabalho do cara (ou da moça).
Ainda que não fossem opção de renda, eram uma excelente forma de integrar escritores e leitores; de permitir que um iniciante construísse um portfolio de publicações para expôr ao mundo; de, acima de tudo, gerar aquela impressão que você é um escritor profissional, capaz de grandes coisas.
Lembro de ter procurado por coisas assim no Brasil na época, e me frustrado. Encontrei a Revista Trasgo, e meio que só.
Fiquei triste que não tinhamos um mercado assim. Queria que tivéssemos.
Bom, um gênio da lâmpada devia estar à espreita, porque muita coisa mudou de lá pra cá, e as coisas estão indo cada vez melhor.
A Trasgo foi a pioneira, mas foi a Revista Mafagafo que, ao meu ver (e espero que ninguém se ofenda com isso), realmente iniciou a mudança. Acho que o tcham da coisa foi o trabalho de mídia social feito pelas administradoras da Mafagafo – o Twitter da revista é ativo e carismático, gerando uma conexão com os leitores e com os escritores que pretendem submeter pra ela. A Mafagafo acabou criando uma verdadeira comunidade de apoiadores; muitos inclusive colocam dinheiro na revista todo mês. Eu sou um deles, parte do Clube de Escrita Mafagafo, onde as lições e treinamentos de escrita são, ao menos pra mim, secundários à oportunidade de networking, colaboração e camaradagem (e VOCÊ também pode Apoiar a Mafagafo CLICANDO AQUI). A Mafagafo abriu duas filiais – a Faísca, para contos de até 1000 palavras, e o Pio, para contos que cabem em de 1 a 3 tweets!
Outras revistas surgiram, ou ganharam evidência, nesse processo. A Mafagafo, a Trasgo, e várias outras (Balbúrdia, a editora Dame Blanche, etc) formam o Coletivo Fantasistas, que é uma iniciativa maravilhosa. E várias outras iniciativas tem ganhado exposição – e dando espaço para novos autores – devido à essa integração da comunidade de contistas e escritores brasileiros. São exemplos a Avessa e a Taverna.
Enfim, finalmente, há espaço de sobra no mercado. Contistas não precisam mais ficar à mercê de editais predatórios, que só existem para fazer dinheiro para o organizador da antologia – os famosos “pague para publicar” (disclaimer: não acho que toda antologia que cobre para publicar seja predatória. Existem algumas que de fato valem o investimento. Eu mesmo estou participando de uma – a Curtos e Fantásticos Volume 2. Mas aí cabe ao autor pesar os benefícios e malefícios. E pesar também qual a seriedade da seleção, porque já vi contos que claramente não estavam em estado publicável sendo absorvidos para antologias predatórias que iria imprimir sua tiragem, distribuir aos autores, e deixar essas histórias às traças). Nem todas essas revistas pagam os autores, mas a maioria o faz, nem que de maneira simbólica. E, importante, nenhuma delas cobra do autor.
O dinheiro tem que fluir para o autor. Esse é um mantra do mercado anglófono (EUA, Europa, etc) que eu realmente gostaria que fosse adotado por aqui. Essas revistas são um passo importante nessa direção.
Você é um profissional. Não aceite ser tratado como menos do que isso.
E fico duplamente feliz de ver que o mercado de ficção especulativa brasileiro (ou seja, fantasia, ficção científica, etc) está começando a alçar tímidos mas promissores vôos internacionais. A revista Strange Horizons, renomada publicação internacional, realizou recentemente uma chamada exclusiva para autores brasileiros. A edição especial já foi publicada, e será traduzida pelo pessoal da Trasgo. O nível dos escritores que entraram nela é altíssimo, e o mundo está começando a perceber. E tem uma iniciativa nova e muito empolgante vindo – a Boitatá Magazine! Uma revista feita por brasileiros, publicando contos em inglês. Levar a literatura nacional pro mercado internacional.
Eu tô empolgado pra caralho, e com mais vontade de escrever do que nunca.
E não só escrever. Eu vou fazer parte dessa onda também. Em algum ponto entre hoje e ano que vem, eu vou fundar minha própria revista, utilizando a plataforma que construí ao longo dos últimos quatro anos lá no Mural Científico. Afinal, entre todas as mídias sociais minhas e de parceiros, eu consigo alcançar dois milhões de pessoas. Tá na hora de botar isso pra funcionar a favor da literatura nacional, não é mesmo?
Fiquem de olho para a Mural Científico: Horizontes, a qualquer dia nos meses vindouros.