Estragaram Game of Thrones; O que Podemos Aprender com Isso?

O maior evento televisivo da década – e talvez da história – está acontecendo hoje. O último episódio da última temporada vai ao ar. Após seu encerramento, começa a temporada de desespero para os acionistas da HBO – mas isso já não é problema meu.

E, apesar do quão importante e amada era a série, esta temporada (e, em menor escala, a anterior) tem deixado um gosto amargo na boca dos fãs. Reclamações dominam o Twitter após cada exibição.

Porque? Como um dos melhores shows da história da televisão conseguiu decepcionar tantos os seus fãs? Hoje eu quero falar um pouco sobre algumas decisões que forem feitas, e porque, ao meu ver, do ponto de vista narrativo, elas foram erradas. Então, vamos discutir o que levou a esses erros – e como podemos evitá-los em nossas próprias histórias.

Episódio 3 – A Longa Noite

O Episódio 3, “A Longa Noite”, foi um desastre em vários aspectos. As táticas militares utilizadas pelos protagonistas foram estúpidas – uso incorreto de cavalaria (Cavalaria deve ser usada para flanquear infantarias engajadas em combate ou causar danos massivos à uma infantaria em fuga, NÃO como ataque frontal contra uma força de infantaria), uso incorreto do castelo (um castelo é a maior vantagem em uma batalha medieval. E você não posiciona tropas na frente de um castelo – o correto é dos lados ou atrás, justamente para as tropas dentro do castelo poderem ajudar no combate de uma posição segura). Recomendo os vídeos do canal Shadiversity no YouTube sobre esse assunto.

Porém, eu não sou um estrategista militar ou um historiador com especialidade em Período Medieval. Eu sou um escritor. Então não vou me alongar nessa parte e sim comentar os pontos fracos na narrativa do episódio: A falta de payoff para o arco do Rei da Noite e o posicionamento de Arya como a protagonista efetiva desse episódio e como a pessoa que vai derrotar o Rei da Noite.

O Rei da Noite – Um Arco Sem Conclusão

Comecemos pelo primeiro. O Rei da Noite – e os White Walkers como um todo – era uma das figuras mais misteriosas da série. Uma das mais importantes também; a primeira cena, tanto do show quanto dos livros, é a apresentação dos White Walkers. É o elemento fantástico que ajuda a nos lembrar que, mesmo em meio à toda a politicagem realista, Game of Thrones ainda é uma série de fantasia. Muitas teorias foram feitas sobre o propósito e a motivação dos White Walkers – porque eles estavam tentando acabar com a vida em Westeros, e porque só agora?

Game of Thrones era uma série com múltiplos arcos narrativos – múltiplas histórias dentro da história. Porém, todas elas serviam à dois arcos principais: A guerra pelo trono de ferro e a guerra contra os White Walkers. Assim, o show poderia acabar de duas formas: Resolvendo a treta política para tirar ela do caminho da treta que importa de verdade (contra os zumbis), OU resolvendo a treta com os zumbis primeiro para tirar ela do caminho da treta que importa (a política). Aqui, não há certo ou errado. A série optou por considerar a guerra pelo trono de ferro como a trama principal e a dos white walkers como a secundária. Não tem problema. Algumas pessoas reclamaram dessa secundarização dessa story thread, e até faz sentido considerando que, por ser introduzida primeiro, o autor sinaliza que a ameaça dos White Walkers seria, em teoria, maior e mais importante do que a briga política. Mas, no fim do dia, ambas as escolhas estavam corretas. Havia construção suficiente para levar a história para qualquer um dos caminhos. A série escolheu esse (e talvez essa tenha sido a escolha do Martin – não sabemos), e essa escolha não é um erro.

Dito isso, não concluir corretamente essa história é sim um erro. E a série deixou buracos nessa história que jamais serão respondidos (mesmo se o Martin terminar os livros, a série é uma obra à parte). Especificamente, temos vilões sem motivação, o maior clichê dos clichês: Os White Walkers são uma horda de zumbi maligna que é maligna porque é isso que zumbis malignos fazem. Ponto.

Outra coisa que ficou sem conclusão é a relação do Rei da Noite com o Bran, e o que ele queria ao capturar (ou matar) o Bran. Muito mistério foi levantado, e nada foi respondido. O resultado é uma história insatisfatória.

Arya

O segundo problema é a Arya ter sido a pessoa a matar o Rei da Noite. E isso precisa ser destrinchado para que não me entendam errado:

  • O problema não é a Arya ter matado o Rei da Noite porque isso “não seria crível”. A Arya é a máquina de matar mais eficiente da série. O arco dela foi justamente para se tornar uma grande assassina. Do ponto de vista de “nível de poder”, isso é aceitável.
  • O problema não é a Arya ter matado o Rei da Noite por “falta de foreshadowing”. bom, até é, mas não exatamente. Explico: houve foreshadowing, mas esse foreshadowing não foi muito competente porque os momentos de foreshadowing foram encaixados nessa narrativa retroativamente. Tem dois pontos que justificam uma construção que dá a entender que a Arya mataria o Rei da Noite: “O que dizemos pro deus da morte? / Hoje não” e o lance de “Você vai fechar olhos castanhos, olhos azuis e olhos verdes”. O problema é que, com um olhar atento, fica claro que esses pontos não estavam apontando para este acontecimento. Principalmente a questão dos olhos: a frase não é construída para realçar os Olhos Azuis que ela fecharia, como se esperaria de um momento de foreshadowing. Os olhos azuis estão literalmente perdidos no meio da frase, sem qualquer tipo de realce; de fato, a frase dá a entender que olhos verdes seriam os mais importantes, por virem por último. A decisão de usar essa frase para justificar a Arya matar o Rei da Noite parece ter sido feita retroativamente – ou seja, os roteiristas da série decidiram agora, na temporada 8, que a Arya mataria o Rei da Noite, e procuraram por quaisquer elementos das temporadas anteriores que eles pudessem resgatar no episódio para justificar essa decisão e fazer parecer que essa era a ideia desde sempre. Eu duvido muito que essa tenha sido a ideia do Martin – mas obviamente isso só o tempo dirá.
  • O problema da Arya matar o Rei da Noite também não reside no fato de ela não se encaixar na profecia do Azor Ahai. Essa profecia é muito mais relevante e trabalhada nos livros do que na série, e a relação de Game of Thrones com profecias é bastante conturbada. O Martin ativamente quer subverter esse clichê de profecias em histórias narrativas e ele já havia avisado em entrevistas que nem todas se cumpririam, então faz sentido a profecia do Azor Ahai ter sido descartada.

Então qual é, de fato, o problema da Arya ser a heroína?

Simples: Esse arco da história não pertence a ela. Pertence ao Jon.

Como eu disse acima, Game of Thrones é uma série que conta duas histórias interligadas: A luta política pelo Trono de Ferro, e a luta dos vivos contra o exército de mortos do Rei da Noite.

A primeira trama, a trama política, tem vários possíveis protagonistas. A Daenerys era a mais óbvia, mas como agora ela se tornou a vilã final da história, a expectativa é que o Jon seja o verdadeiro protagonista da história. Dito isso, os livros podem seguir por uma trilha diferente. De qualquer forma, existem/existiam duas formas de enxergar Game of Thrones: Um livro com duas histórias, cada um com seu protagonista (Daenerys na saga do trono de ferro e Jon na saga do Rei da Noite) ou um livro com duas histórias que compartilham o mesmo protagonista (o Jon). E eu sei que a noção de “protagonista” é um pouco diferente em Game of Thrones já que existem vários personagens importantes na história, mas no fim do dia, histórias possuem um protagonista central. Como GoT tem duas tramas centrais, faz sentido ter dois protagonistas. Também faz sentido ter um protagonista só que abrange as duas histórias. Novamente: Não existem decisões corretas nesse caso. Ambas geram histórias satisfatórias, e isso é um testamento à capacidade do Martin de ter construído essa história.

Dito isso, uma coisa não há dúvidas: a história do Rei da Noite só tem um protagonista, e esse protagonista é Jon Snow. Todo o arco narrativo do Jon, em todos os livros, existe em função do arco dos White Walkers. Em vários momentos da trama, inclusive, ele é o único personagem envolvido nessa história – enquanto Westeros se matava em jogos políticos, Jon Snow era o homem que, junto da Patrulha da Noite, investigava e lutava contra o problema dos White Walkers.

Essa história é do Jon, e do Jon.

Colocar a Arya como protagonista do episódio de resolução desse arco narrativo é roubar o Jon da resolução da sua própria história.

Se por qualquer motivo os autores decidirem que realmente querem que a Arya mate o Rei da Noite, não tem problema. Ela pode sim, sem problemas, ser a pessoa que dá a facada final. Como eu disse, ela é a maior assassina do reino. Ela é, para todos os efeitos, uma ferramenta narrativa: se alguém precisa morrer, a Arya é a pessoa certa para fazer o serviço.

O problema foi o episódio colocar a Arya como protagonista do episódio – e, como consequência, de todo o arco narrativo dos White Walkers – em detrimento do Jon Snow. Essa história não é da Arya. O arco de personagem da Arya é relacionado ao arco narrativo do Trono de Ferro; todo o desenvolvimento de personagem da Arya acontece em função da sua vingança aos inimigos políticos que destruíram a casa Stark, culminando, principalmente, na rainha Cersei. Não faz sentido, aos 45 do segundo tempo, a Arya assumir o arco do Rei da Noite.

Resumindo: faltou participação ativa e central do Jon. Não precisava acabar com ele e o Rei da Noite num duelo de espadas – isso é clichê e faz sentido fugir disso. Mas empregar a Arya para matar o Rei da Noite deveria ter sido um plano dele, com participação ativa dele (talvez ele distrair o Rei enquanto a Arya dá o ataque furtivo, invés daquela coisa ridícula que foi ela surgindo do nada no meio de uma multidão de White Walkers?). Não sei, alguma coisa. O Jon precisava fazer alguma coisa central nesse episódio e na resolução desse conflito para encerrar essa trama da maneira correta.

Episódio 5 – Os Sinos

O segundo episódio catastrófico foi o episódio 5, onde finalmente Daenerys vira a Rainha Louca e a de facto vilã final da série. Tal qual o episódio 3, esse capítulo possui vários erros de roteiro: as balistas matadoras de dragão terem sido superadas com muita facilidade (e utilizando a mesma estratégia que eles já tinham estabelecido que não funcionaria no episódio anterior); a Arya ter desistido de sua motivação fácil demais; o Jon Snow sendo um otário passivo; o Varys ter ido de “melhor articulador e espião do reino” para esquemas de traição burros; etc.

Mas eu quero focar no problema maior: a maneira que foi feita a ida da Daenerys pro “lado negro da força”, por assim dizer.

Novamente, preciso colocar alguns disclaimers, pois existem maneiras corretas e incorretas de criticar esse momento. É importante entender o porque ele falha de fato.

Muitos ficaram bravos pelo simples fato de a Daenerys ter ficado maligna. Acharam que o ato de ela ter tacado fogo na cidade era uma traição do arco da personagem. Isso não é verdade, e quem pensa isso não prestou muita atenção na série. A Daenerys sempre foi uma personagem que fazia “o certo da maneira errada”. Que andava na linha tênue entre ser heroína e ser, se não vilã, pelo menos uma heroína moralmente questionável. E as últimas três ou quatro temporadas tem construído a decaída dela para virar a Rainha Louca. Ela virar a Rainha Louca não foi gratuito, nem mal-feito.

Ao mesmo tempo, ela não precisava ter ido para esse lado. Novamente, é mais uma daquelas situações “a história poderia ter ido para qualquer lugar e ainda ser satisfatória”. Era possível levar o arco da Daenerys para uma “queda e redenção”. Era possível levar o arco dela para uma história de “heroína resiste à tentação da sua própria malginidade”. E era sim possível levar a história para um arco de “heroína enlouquece e vira vilã”. Essa transformação foi justificada pela construção tanto da série quanto dos livros.

Mas a maneira que essa cena foi feita foi estúpida, porque o arco da Daenerys parece dar um salto lógico difícil de engolir. Os episódios anteriores haviam construído uma tensão específica: Cersei usaria os inocentes de King’s Landing para defender sua coroa, e Daenerys estava oscilando entre sacrificar esses inocentes para atingir sua vitória ou dificultar sua vitória para proteger esses inocentes.

Quando a batalha ocorre, porém, a batalha veio extremamente fácil. Fácil demais eu diria, mas tudo bem. É uma decisão e a série tem o direito de fazê-la. Daenerys venceu, e não precisou sacrificar os inocentes. A guerra havia acabado.

Ela decidiu queimar as pessoas à troco de nada. E isso a série não havia justificado. Daenerys ainda estava no papel de heroína até aquele momento. A virada foi súbita demais.

Novamente, não tem problema a Daenerys queimar a cidade e virar vilã. Mas precisa ser bem-feito. Eu vejo duas alternativas:

1 – Deveriam ter capitalizado em cima da tensão que já haviam estabelecido. Façam a batalha ser mais dura. Façam a Cersei se trancar no Red Keep e ele de fato resistir a qualquer outra tentativa. Ou o dragão taca o fogo, ou a Cersei não cai. Aí faria sentido a decisão vilanesca da Daenerys – sacrificar sua moralidade para alcançar sua vitória, como havia sido construído na narrativa da série.

2 – Dar mais tempo para a temporada se desenvolver. Solução para várias coisas, na verdade (e vou falar mais sobre isso abaixo). Mais um ou dois capítulos da Daenerys degradando e tomando decisões malignas, estabelecendo que ela de fato fosse uma vilã, 100%. Talvez já ter rolado uma ruptura com o Jon Snow, e o ataque à King’s Landing já ter sido “taca fogo em tudo” desde o começo. Enfim, faltou construção para justificar esse ato gratuito por parte da personagem.

O vídeo abaixo lida bem essa questão e traz alguns argumentos que eu não cobri – e ele tem legendas em Português!

As Causas

Pressa

E já que toquei no assunto, vamos falar sobre isso: Quase todos os problemas dessa temporada se dão no fato que ela só tem 6 episódios. A HBO havia, segundo rumores, liberado quanto tempo e recurso os escritores quisessem, mas eles optaram por condensar tudo nesses seis episódios. E isso foi um erro.

Tem coisa demais para acontecer nos episódios importantes. Por consequência, eles estão sendo apressados – e, por terem que resolver todas as pontas soltas rápido, não tem tempo de efetivamente desenvolver esses acontecimentos e criar um ritmo satisfatório para a história.

O caso do Varys, por exemplo. Em dois episódios, ele trai a Daenerys, comunica essa intenção traidora pra meio mundo, é traído pelo Tyrion, e morre. A impressão que fica é que Varys virou burro. Cadê os esquemas? Cadê a manipulação sutil? Cadê as forças que esse personagem empregava tão bem em outras temporadas?

A resposta é: sem tempo, irmão. E com isso, arruinaram o personagem. E o mesmo se repete em quase todos os acontecimentos dessa temporada: nada está tendo o tempo necessário de construir os seus pay-offs narrativos e capitalizá-los da maneira correta.

A batalha de Winterfell poderia facilmente ter sido dois capítulos. Da mesma forma, poderiam ter dado três ou quatro de construção até a batalha. Isso daria tempo de construir a Arya como a eventual heroína que iria matar o Rei da Noite. Daria tempo do Jon fazer planos e ter uma participação mais ativa. Daria tempo de terem dado uma motivação pro Rei da Noite.

A parte política então nem se fala. A campanha contra Cersei poderia ter sido muito mais longa. Se o plano de Cersei em ter mentido sobre ajudar contra os White Walkers era “vou deixar eles se enfraquecerem e lidar com quem sobrar”, porque diabos ela ficou só esperando sentada em King’s Landing, dando tempo para as forças nortenhas se reconstruírem? (Algo que a Daenerys não permitiu, mas mesmo assim – porque a vilã da história tá dando a oportunidade dos heróis tomarem as decisões burras, invés de forçar eles a escolherem os piores caminhos por falta de opção?). E porque Cersei deixou eles descerem até o sul? Não faz sentido apostar todas suas fichas em uma batalha final na sua capital. Enfim – milhares de problemas de roteiro porque a série não tem tempo para nada além de uma batalha final em King’s Landing.

Essa temporada poderia facilmente ter 10 episódios, ou doze. Insistir em seis foi um erro.

A ânsia em Subverter Expectativas

A segunda causa desses problemas é o mesmo vírus que acometeu Star Wars Episódio 8: A vontade de subverter as expectativas do público, a qualquer custo, mesmo ao custo de arcos narrativos propriamente construídos e finalizados.

Os próprios autores da série admitiram que a motivação para escolher a Arya foi “ela não quer quem você pensaria” que mataria o Rei da Noite. E de fato, ninguém pensou isso porque, como eu disse, esse arco narrativo não era dela. Para os roteiristas, chocar o espectador era mais importante do que resolver o arco narrativo da série da maneira correta.

E, em GoT mais do que em Star Wars, essa ânsia é compreensível, porque Game of Thrones se popularizou e se vendeu como uma série que subverte as expectativas do leitor/espectador. GoT cospe nos tropes das histórias de fantasia medieval. Nada deixa isso mais claro do que a morte de Ned Stark, lá na temporada 1. Aquilo é o Martin botando o pau na mesa e dizendo “essa história não vai ser como você espera”. Essa éa graça. Esse é o tempero de GoT, e sempre foi.

Porém, subverter expectativas é uma arte. E talvez seja nisso que resida a maior lição de Game of Thrones para autores iniciantes: graças às cagadas dessa temporada, nós temos exemplos concretos de Subversão de Expectativa que funcionam e que não funcionam, dentro da mesma série. Isso nos ajuda a entender o que faz um momento funcionar e o outro não.

Tem dois vídeos, lançados esse fim de semana, que avaliam duas cenas magníficas de GoT que mostram essa capacidade de subversão da série. A primeira é a cena do Casamento Vermelho, provavelmente a porrada mais inesperada da série. A segunda é ainda mais interessante enquanto material de estudo: a luta entre Oberyn Martell e o Montanha, no Julgamento por Combate de Tyrion. Essa segunda é particularmente interessante porque ela é um caso de “subverção de expectativas subvertidas”. Ela ocorre na Temporada 4; nela, os espectadores já entenderam que GoT não é uma série convencional onde as coisas dão certo e os mocinhos vencem. Eles já estão cautelosos. Então como que essa temporada conseguiu contar uma história de “mocinho tenta salvar um homem inocente de uma condenação injusta e vingar sua irmã” e ainda assim nos dar a esperança que talvez ele tivesse sucesso?

Vou deixar os vídeos fazerem os casos deles antes de explicar.

A subversão acontece através de uma comprenssão absurda dos tropes do gênero (no caso, fantasia) e da própria obra e das expectativas da audiência em relação à esses dois elementos.

O Casamento Vermelho choca porque nós ainda estamos apegados à ilusão de uma história de fantasia convencional. Claro, Ned Stark – o herói bondoso e honrado prototípico – morreu, mas agora nós temos o seu filho em uma cruzada honrosa! Não tem como acabar errado, não é mesmo?

Porém, a série também planta pistas o suficiente para que, quando o acontecimento ocorra, ele seja surpreendente, porém inevitável.

No caso do Oberyn, as coisas são ainda mais geniais. “Me engane uma vez, e a culpa é sua. Me engane duas vezes, e a culpa é minha”. Já fomos enganados duas vezes: Ned Stark morreu. Rob Stark morreu. Essa série não vai permitir que os heróis vençam até o final. Não vou ser enganado de novo. Não vou ter esperança.

A temporada 4 inverte isso. Coisas boas começam a acontecer. Joffrey morre. Os Tyrells – uma casa mais honrada que os Lannisters – estão em acesção e ameaçando os planos dos vilões. E vários personagens tem suas vidas poupadas nessa temporada. Será que estamos chegando no ponto onde os heróis viram o jogo?

A série nos dá exatamente a quantidade necessária de esperança para abrir nossa guarda de novo. E BAM. Cabeça esmagada.

Contraste esse carinho e cuidado narrativo com o que aconteceu nessa temporada, e você vai entender porque os exemplos atuais de subversão não funcionam.

As lições finais

Por pior que essa temporada seja, ela não pode apagar o brilhantismo das temporadas anteriores, tampouco o dos livros. Ainda não temos como saber se esse é de fato o final que Martin tinha em mente, ou se os roteiristas tomaram grandes liberdades. E, mesmo se os livros seguirem exatamente o mesmo caminho, os mesmos beats de roteiro, o livro terá todo o tempo do mundo para desenvolver esses momentos de maneiras mais competentes. Sim, estragaram Game of Thrones – mas isso não muda o fato que a série foi ótima, os livros são ótimos, e há uma história completa objetivamente brilhante enterrada no meio disso tudo, mesmo que nós nunca a vejamos concretizada (seja porque os livros nunca sejam terminados, seja porque Martin acabe peidando na farofa nos livros também).

O que nos resta é aprender com os erros da série, e contrastar os erros com os acertos para entender porque os acertos brilham tão forte. Assim, você poderá aplicar esses mesmos elementos nas suas histórias, e fazê-la brilhar igualmente. Igualmente importante é entender o porque as falhas não funcionaram – assim você saberá que elementos evitar na sua história.

No fim do dia, Game of Thrones nos deu uma masterclass de roteiro – bom e ruim. Cabe a nós aprender com ele, e apreciar essa série que impactou tão profundamente a cultura pop internacional.


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E por hoje é isso, pessoal! Espero que esse (extremamente longo) texto tenha sido útil! Abraços e até a próxima!

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